14 de junho de 2016

Cicloturismo no Circuito Costa Verde & Mar





Relato do casal Felipe Simões da Matta e Patrícia Vargas da Matta, duas bikes e  seis dias na estrada pedalando em Santa Catarina pelo Circuito Costa Verde & Mar.


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Escrever este relato nos transporta novamente para cada dia mágico que vivenciamos. É incrível pensar no poder que tem uma bicicleta. Duas então... Não era uma bike reserva não, até porque nossa aventura não tinha carro de apoio. Um casal - duas bicicletas. Porque como diz uma amiga: “Casal que pedala junto permanece junto”. Isso torna tudo ainda mais especial.

O planejamento para fazer o Circuito Costa Verde & Mar começou com bastante antecedência. Já em 2015 decidimos que uma cicloviagem seria importante para nós. E focamos nesta ideia. Precisávamos cair na estrada e esvaziar a mente. Largar os resíduos que 2015 nos deixou. Foi um ano de duras perdas nas nossas vidas/famílias. Então resolvemos “pedalar nossas dores”.

Pedalar e se sentir parte da natureza foi revigorante e necessário. Primeiro escolhemos fazer este circuito porque nunca havíamos feito um circuito mais longo. E para uma primeira cicloviagem este circuito seria o mais indicado, já que o nível de dificuldade não é tão alto. Também nos chamou a atenção a possibilidade de percorre faixas do litoral e interior. Depois listamos os equipamentos que ainda não tínhamos, ai foi só aproveitar um feriado que tinha no mês de maio, juntar mais uns dias de férias, começar a fazer as reservas nos hotéis e pousadas e pronto. Foi tudo muito tranquilo para organizar, pois no site do circuito você encontra a lisa de todos os parceiros.

O circuito está planejado para ser feito em 7 dias, mas resolvemos fazer em 6 dias, pois queríamos ter um dia para descansar.

O grande dia estava cada vez mais próximo, e com os hotéis agendados começamos a separar as “tralhas”. Cada um de nós utilizou um alforje. Colocamos como meta carregar cada um deles com 8 kg de bagagens, pois seria o suficiente para percorrermos 11 municípios em 6 dias.




Foi aí que a luta começou, rsrs. Conseguir separar realmente aquilo que é necessário não é tarefa simples. Primeiro cada um separou tudo o que gostaria de levar e no decorrer algumas coisas voltaram para o armário. Afinal, o que importa mesmo é pedalar (não vamos desfilar). Separamos todas as roupas que utilizaríamos para pedalar, roupas que usaríamos para relaxar (aqui tinha que ser o mínimo possível), um tênis extra, chinelo, comidas, kit de ferramentas, produtos de higiene pessoal e capa de chuva (este item é super importante e logo vocês saberão o porquê).

Nossas mães estavam felizes e apreensivas. Antes de começar a nossa aventura passamos bem certinho a elas o nosso itinerário e diariamente compartilhávamos noticias e fotos.

Tudo certo, tudo encaminhado e o dia 22/05/2016 chegou. Acordamos cedinho, alforjes nas bikes, mapas e GPS prontinhos para serem usados, e aquele friozinho na barriga surgiu. Mas durou apenas 5 minutos. Depois que caímos na estrada a magia começou.




1º dia - Barra Velha a Luiz Alves:

O primeiro dia saímos de Barra Velha com destino a Luiz Alves. E neste dia a queridinha capa de chuva já foi utilizada do início ao fim. Nada muito forte. Nada que nos tirasse o sorriso do rosto. Mesmo com chuva e frio, curtimos muito o interior.




Fizemos várias paradas e tiramos belas fotos. Neste dia apenas uma subida de mais respeito, mas nada de assustar. No meu caso, peguei embalo rapidinho para subir, pois do nada surgiu um baita cachorro, que me fez realmente pedalar, rsrsrs. Aqui pude desfrutar a utilidade da minha buzina. Ela tem um efeito paralisante nos cachorros: super útil. Não temos medo de cachorro, mas não custava usar.




Logo após a subida sempre vem uma bela descida e aí nos largamos. Nem o vento gelado e a chuva nos impediram. Encontramos uma parada de ônibus e foi ali mesmo que fizemos o nosso almoço. Não foi fácil comer sanduíche vendo a fumaça e sentindo o cheirinho de churrasco nas casas, afinal era domingo...dia de churrasco. Ficamos ali por um tempo e o frio aumentou. Foi quando começamos a pensar na ducha quente do hotel.



Durante esta parada vimos o primeiro cicloturista passar por nós, todo equipado, nos dando a impressão de também estar fazendo o circuito.




Chegamos então a Luiz Alves. Cidade pequenina e encantadora. Nós que adoramos cidades pequenas nos sentimos em casa. Só tem um hotel na cidade, e como era domingo a maioria dos lugares estavam fechados. Ali encontramos o cicloturista que havia passado por nós quando estávamos almoçando. Um carioca chamado Leo, que veio do Rio de Janeiro especialmente para fazer este circuito. A partir deste momento nossa aventura ganhou mais um integrante. Passamos a fazer o percurso juntos.




Neste hotel fomos recepcionados pelo casal de proprietários do hotel. Muito simpáticos e tranquilos. Já se interessaram por saber de onde éramos e quais eram os nossos planos.

Quantos hóspedes haviam no hotel? Apenas nós três. A chuva parou e resolvemos dar uma voltinha no centrinho da cidade. Saímos de chinelos e meias, como estávamos no hotel. Foi quando vimos um casal de moradores da cidade. Ele de meias e chinelos, e ela de pantufas caminhando tranquilamente pela rua. Ô coisa boa isso...

2º dia - Luiz Alves a Ilhota:

Percurso tranquilo, trecho de interior muito bonito e relaxante. Muitas plantações de banana pelo caminho, mas banana madura que era bom nada, rsrs. Ficamos na vontade.

Este segundo dia foi muito gostoso, com sol e céu azul, e a sensação de liberdade e desprendimento se intensificou. Um casal, duas bicicletas, belas paisagens, e a sensação de que não
precisávamos de mais nada.




Vista incrível do Morro do Baú, com ranchos de madeira e muito pasto.






Neste dia chegaríamos até o rio Itajaí-Açu onde animadíssimos pegaríamos a balsa. Chegamos no local, avistamos a balsa do outro lado do rio, e nada. Ela continuou lá paradinha, e para a nossa surpresa a balsa estava desativada. A preocupação pegou. O jeito seria passar pela ponte, mas a ponte que liga Luiz Alves a Ilhota ainda estava sendo construída. Havia placas proibindo o acesso e muita gente trabalhando na obra. Então pensamos, vamos passar e torcer para que ninguém barre o nosso acesso. Se não pudéssemos atravessar a ponte em obras teríamos que mudar a rota e pedalar mais 40 Km passando pela cidade de Gaspar. Estávamos com fome e loucos para chegar. E já avistando o nosso destino, logo ali, não podíamos pensar em dar toda a volta por outro município. Fomos em direção a ponte em obras, levantando cordas que barravam o acesso, desviando placas, parando e ainda tirando fotos, afinal estávamos inaugurando a ponte, os cliques não poderiam ficar de fora. Passamos por um, dois, dez operários e para a nossa surpresa, apesar dos olhares curiosos sobre as bicicletas cheias de “muamba”, ninguém nos barrou. Entre pedaços de asfalto, ferros, madeiras, vãos onde se observava o rio logo abaixo de nós, atravessamos a ponte...ufa.




Fomos direto ao hotel. Novamente o único da cidade. Tudo bem simples, mas fomos bem recepcionados. As magrelas descansaram na lavanderia do hotel. Foi o hotel mais simples da viagem, mas o único hotel com o “livro do ciclista”, onde deixamos um pequeno relato.




A cidade em si não tem muito a conhecer. Mas fizemos algo que gostamos muito. Tomar um bom chimarrão. Sim... levamos no alforje os apetrechos.




3º dia – Ilhota a Camboríu:

Saímos cedinho, e este dia também foi de muitas estradas pelo interior. Uma delícia contemplar a natureza, parar e olhar tudo com calma.

Passamos por uma linda igrejinha no alto de um morro, e no "meio do nada". Rendeu algumas fotos.




Uma das grandes vantagens do circuito é a organização e sinalização durante todo o trajeto.





Em determinado momento, um senhor parado em uma porteira nos solicitou a passarmos rápido, ou não passaríamos mais por ali. Se tratava de uma boiada que passaria de um pasto a outro por pequenas porteiras exatamente onde estávamos. Passamos e paramos para admirar este momento. Foi muita sorte. Mantivemos certa distância conforme nos alertaram. A quantidade de gado era enorme. Nós ficamos ali por um tempo. Cena inesquecível.





4º dia – Camboriú a Bombinhas:

Neste dia chegamos à parte azul do circuito. Trechos lindos a beira mar. Ótimas ciclovias.






Algumas subidas boas, começando pelo Morro do Encano. Neste dia procuramos fazer alguns “anexos”, conhecendo lugares que não estão no circuito. Depois de muito subir e descer morro, parada para uma bela refeição... almoço as 15:30 hs.





O quarto dia foi sem dúvidas o dia mais bonito de todo o circuito. Vivenciamos intensamente todo este trecho. Para quem fará este circuito futuramente, nossa sugestão seria de separar dois dias para pedalar pela península de Porto Belo. Tivemos um final de tarde perfeito, com direito a pesca da tainha, barquinhos e pescadores, molhar o pé na água gelada, sentar e ouvir o bater das ondas, caminhar, escutar e ver o balé aéreo das gaivotas e neste momento o amigo choro compareceu, e foi lindo. Não tinha como não se emocionar.






Ficamos hospedados em Bombinhas, em um hotel com ótima estrutura. Nos acomodaram em um quarto espaçoso, com sala e cozinha para as magrelas ficarem. Jantar no apartamento e que bela janta... apropriada para quem pedalou o dia todo. E aquele café da manhã. Dava tranquilamente para 4 pessoas comerem. Mas nós demos um jeito, preparamos lanches para comer na estrada, pois o dia mais pesado do circuito nos esperava.




5º dia – Bombinhas a Balneário Camboriú:

Acordamos cedinho, mais um dia lindo. Bikes equipadas e bora cair na estrada.

Vendo a altimetria do mapa, sabíamos que este dia seria punk... muitas e muitas subidas. Logo no início, ainda sem estarmos aquecidos, já enfrentamos uma bela subida. Mas é só ir com calma, pedalar e fazer algumas paradas, tomar água, usar a técnica do zigue-zague para facilitar as subidas íngremes que tudo dá certo.

Passamos pelas lindas praias de Canto Grande, Zimbros e Mariscal.





E logo chegamos ao Morro das Antenas. Muuuita subida. Quando achávamos que era a última curva da subida, lá vinha outra. Foram tantas que nem sei ao certo quantas, rsrs. Mas todas foram vencidas, e a bagagem não foi empecilho. Pedalando com calma também não foi necessário empurrar em nenhum momento do circuito.




Como a altimetria foi alta neste dia, observamos vistas maravilhosas e contemplativas. Também pedalamos alguns poucos quilômetros pelo acostamento da BR101, mas tudo bem tranquilo. Entramos em Balneário Camboriú pelo acesso sul, pela Interpraias. Ali visitamos praias muito bonitas, entre elas a praia do Estaleiro, Taquaras e Laranjeiras.





Chegamos à praia central de Balneário Camboriú. Aqui pegamos uma balsa, tudo tranquilo e rápido. Ótimas ciclovias, porém, extremamente movimentadas. Muita... mas muita gente. A cidade como um todo estava lotada. Para chegar ao hotel tivemos que descer das bikes e empurrar devido ao trafego intenso de pedestres. Queríamos rapidamente chegar ao hotel, tomar um belo banho, jantar e depois curtir a água quentinha da piscina. Porque depois de pedalar 65 Km e com todas as subidas do dia, nós merecíamos :D

As bikes foram guardadas em uma sala, tudo bem seguro.

6º dia – Balneário Camboriú a Barra Velha:

Depois de uma boa noite de descanso, um delicioso café da manhã chegou então o último dia.

Alforjes arrumados e prontos, fomos buscar as bikes e tivemos uma surpresinha, uma delas estava com o pneu no chão. Menos mal, pelo menos não foi necessário trocar pneu na estrada.





O dia amanheceu nublado e com chuva leve, conforme previsto. Para garantir, colocamos capa de chuva. Em alguns momentos pingos mais grossos, mas nada exagerado e foi assim até chegarmos a nosso destino.

Um pouquinho de subida para sair da cidade, mas nada comparado ao dia anterior.

Chegando a Itajaí, parada na turística Pedra Bico do Papagaio. Não podemos deixar de elogiar as ciclovias da cidade. Navegantes também está de parabéns.




Neste dia nossas magrelas estavam no limite. Não precisaram de ajustes mecânicos, mas com chuva, sol, areia, barro, elas estavam emitindo uma estranha trilha sonora. E isso que sempre tínhamos o cuidado de lubricar.

Mas as guerreiras venceram todo o circuito e não nos deixaram na mão.





Chegamos realizados e maravilhados com toda esta experiência. Cumprimos nossos objetivos: “pedalar nossas dores” e “fazer ótimas lembranças”. Imaginávamos que chegaríamos bem cansados, mas muito pelo contrário, a vontade era de iniciar outro cicloturismo no dia seguinte, rsrsrs. Oportunidades não faltam. Santa Catarina é muito rica em circuitos planejados para cicloviagens.

Depois foi só lavar a “fuafa” toda, tirar o barro e areia das coisas e chamar nosso amigo para levar as magrelentas para uma geral.

E agora... qual será o próximo destino?

Nos aguardem...

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